Condições de Produção - Michel Pêcheux
(Leitura
de texto preliminar)
Como as condições de produção, em Michel Pêcheux se relacionam com a temática indígena?
Em resposta à primeira afirmação, é
importante lembrar que a referida ideia de "semelhança" (física) do
homem comum com um indivíduo indígena, ultrapassa qualquer barreira
comparativa. Uma vez que a única raça humana existente é a nossa, o homo
sapiens. Caracterizada por capacidades de comunicação, linguagem inteligível e
desenvolvimento de tecnologia, mesmo quando primitiva.
Assim, o que nos faz diferenciá-los de nós?
Sobre a inserção e a modernidade devida, para os indígenas, é importante
elucidar que o conceito de "modernização", quando aplicado ao âmbito
das tribos indígenas, fere a legitimidade de suas culturas.
E desrespeita seu modo de existência. Devido ao choque causado pelo conflito
de nossas interpretações, uma vez que ambas as culturas, quando comparadas em
paralelo, operam por meio de valores diferentes, para não dizer, antagônicos.
São nossos conceitos e valores culturais, que nos levam a desvalorizá-los?
Podemos afirmar que no mundo em que vivemos, somos todos,
"iguais"?
Nossas
ideias sobre o próximo são sempre corretas e perfeitas?
Sim? Ou não?
A liberdade dos indígenas, algo natural em seu meio, é interpretada por nós,
como ociosidade e indolência, dadas as condições de produção que nos
assujeitam, através do modelo capitalista industrial e seus agentes. Uma
postura conhecida por nós, pela alcunha de: "etnocentrismo".
Para agravar o quadro, o direito de vivência de suas tradições ancestrais
milenares, é suprimido pelo poder persuasivo de grupos políticos e agentes
econômicos externos, que veem a presença destes povos como um empecilho para a
ampliação de suas indústrias e multiplicação de seus patrimônios. Tendo em
vista que o Brasil já é reconhecido mundialmente como uma potência agrária. E
que a aquisição de novas extensões territoriais, viabiliza principalmente, a
criação do gado bovino. Entre outros produtos que já são demandados, pelo
mercado estrangeiro. Um fenômeno que tem se intensificado, ultimamente.
Assim, tendo apresentado o cenário dos povos ameríndios originários
(conhecido por nós pelo vulgo: "índio"), e suas dificuldades em
manter suas tradições, questionamos como os estudos sobre o Discurso, de Michel
Pêcheux, podem nos ajudar a alcançar um melhor entendimento a respeito do caso?
Como podemos relacionar um ao outro?
Acima, foi abordado a questão dos pensamentos e dos conceitos culturais com
os quais lemos e entendemos o mundo. E que surgem a partir das condições
históricas onde estamos situados. O que nos leva a alguns termos que são
empregados em sua obra, como: interpelação, ideologia, assujeitamento e as já
citadas, condições de produção.
Michel Pêcheux afirma que todos somos interpelados, mesmo antes de nosso
nascimento. Pois mesmo no ventre materno, somos "chamados", ou
nomeados, por nossos pais. E que, assim como os nossos nomes já são
estabelecidos antes mesmo de termos consciência, para compreendê-los, as
ideologias (como meras ideias), (co)existem igualmente, antes mesmo de
nascermos. Contudo, elas não cumprem sua função, nem se manifestam sem um
sujeito. Para quem representam uma maneira do indivíduo se compreender enquanto
sujeito e de ler o mundo físico e social, onde ele está situado.
O escritor também vai ressaltar que as ideologias (longe de serem apenas
aquelas ideias políticas que são difundidas nos telejornais), são
compartilhadas constantemente por todos nós. Todos temos nossas próprias
ideologias, que são apreendidas à medida em que estabelecemos contato com
outros sujeitos. Logo, toda forma de interação social é uma possibilidade de
assimilarmos novas ideias. Que podem contribuir para construção de um novo
comportamento, ou de uma nova representação. E assim, o contato com novas
ideias, ou com as condições que constituem a base organizacional de nossa
sociedade, geram o que o autor nomeia como: "assujeitamento". Ou
seja, nos tornamos sujeitos.
E ainda paira a dúvida: como Pêcheux e seu Discurso, pode agregar valor para
a questão interpretativa sobre os povos originários? Simples. Ele vai
demonstrar (com os argumentos apresentados acima), que embora as circunstâncias
ao nosso redor nos construam, também existe a possibilidade de mudarmos, pois,
todo evento social também é um evento interativo e ideológico.
Eis uma
dúvida: como desconstruir as ideias que nos formaram?
A sensação de disparidade que temos, ao nos confrontarmos com as tribos
indígenas e seu modus operandi, se deve às condições de produção que constituem
a base de nossa própria cultura. O que acarreta juízos infundados, como a ideia
de que, "eles", deveriam ser "modernizados". Mas, o que é
ser "moderno"?
A maior parte das características com as quais dialogamos, em nossa
sociedade, tem origem na Revolução Industrial. Ela definiu todo o conjunto de
valores e práticas que se seguiram após o seu advento.
Escolas, alfabetização, centros técnicos, ensino superior, comércio de bens,
comércio de serviços, salário, emprego, legislações (...).
Logo, a dificuldade em se interpretar o minimalismo das comunidades
indígenas se deve a tudo aquilo (em excesso), que prezamos. E(ou) que somos
levados a valorizar. Pois, vivemos pelo acúmulo de bens, pela cultura
consumista, pelo fetiche de mercadoria, pela competição narcísica, pela
persuasão do marketing, pelo culto aos bens e pela produção destes. Até mesmo o
aspecto qualitativo de nossas próprias vidas, é avaliado pelo critério
(institucional e ideológico) da: "utilidade".
Para
concluir, constatamos que as afirmações sobre os indígenas, presentes no início
da atividade, são um resultado direto das condições de produção do sistema
industrial, abordadas por Pêcheux.
Referências:
SIQUEIRA, Vinicius. Condições de Produção do Discurso - Colunas Tortas -
Disponível em: <https://colunastortas.com.br/condicoes-de-producao-do-discurso-michel-pecheux/>.
Acesso em: 08 de junho. 2023.
PAIVA, Clara Maria. Quem é Ailton Krenak? - Politize
Disponível em: <https://www.politize.com.br/ailton-krenak/>.
Acesso em: 08 de junho. 2023.
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